quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Lina Bo Bardi






“A arquitetura é arte. É arte, só que não no sentido mofado das escolas de belas artes. Vejo na arquitetura profundamente vinculada com a ciência e a técnica. Na verdade não há diferença nenhuma. A tecnologia colocada em seu justo lugar nada pode causar de ruim, como impedir a poesia, o belo, até os sonhos bonitos.”




Achillina Bo – nasce em Roma, formada pela faculdade de arquitetura da universidade de Roma. Começa a trabalhar no escritório do arquiteto Gio Ponti, cujo era considerado o último humanista, e representante do artesanato italiano. Ela não gostava do aspecto de Roma com o patrimônio, ela inclusive disse:

“Se a gente acreditar que tudo o que é velho deve ser conservado, a cidade vira um museu de cacarecos.”

“É claro, temos muito respeito pelos objetos antigos, os verdadeiros, e que os conservamos dentro de casa, como relíquia, que de vez em quando trancamos no armário. Mas violentar uma época impondo-lhe embasamento de gesso e papelão significa desconhecer o progresso fatigante e doloroso da humanidade, que a incompetência, o diletantismo e a ignorância fazem recuar de quilômetros a cada centímetro que ela consegue conquistar em seu caminho para frente.”


Mais tarde já com um escritório próprio em Milão, tinha toda liberdade, mas junto veio a escassez de trabalho onde começa atuar como ilustradora e colaboradora de jornais e revistas.


“A função do arquiteto é, antes de tudo, conhecer a maneira de viver do povo em suas casas e procurar estudar os meios técnicos de resolver as dificuldades que atrapalham a vida de milhares de pessoas (...). A arquitetura é profundamente ligada a vivencia, na medida que ela é tudo.”


Tempo depois vê seu escritório ser bombardeado. Assim entra para o partido comunista e participa de encontros com artistas e intelectuais italianos.

Anos depois casa-se com repórter Pietro Maria Bardi, tornando Achilina Bo Bardi, o casal viaja para o Brasil. Em recepção no rio conhecem personalidades como Lucio costa, Oscar Niemeyer, Rocha Miranda, Burle Max, Assis Chateaubriand de quem recebe o convite para fundar e dirigir um museu de arte no país. Ela então entra para o círculo de modernistas Brasileiros.

“Os arquitetos modernos, os INTRANSIGENTES, isto é, aqueles que trabalham em silencio e vêem na nova arquitetura um caminho de limpeza e salvação da humanidade, deveriam ser tratados como certos santos da antiguidade, com uma couraça de guerreiro e uma espada chamejante para combater a inumerável multidão dos incompetentes e dos ignorantes que se acometem com seus falsos cristais, falsos ouros, prata, pata tortas de cão, de leão, cortinas de cetim (...)”


Lina naturaliza-se brasileira oficializando a paixão pelo país, a esse respeito declara.

“Naturalizei-me brasileira, quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso o Brasil é meu país duas vezes, é minha ‘Pátria de escolha’, e eu me sinto cidadão de todas as cidades, desde Cariri, ao triângulo mineiro, as cidades do interior e as da fronteira”

No Brasil Lina, tem fortes influências tropicalistas, que é o resgate e afirmação da cultura brasileira.

“O Brasil está conduzindo hoje, a batalha cultural. Nos próximos dez, talvez cinco anos, o país terá traçado os seus esquemas culturais, estará fixado numa linha definitiva: ser um país de cultura autônoma, construída sobre raízes próprias, ou ser um país inautêntico, com uma pseudo cultura de esquemas importados e ineficientes.”


Sua primeira obra marcante a Casa de Vidro – 1971.

“Habitat significa ambiente, dignidade, conveniência, moralidade de vida, e portanto espiritualidade e cultura.”

Construída em 1951, implantada em um bairro de reserva da mata atlântica, Lina Bo Bardi ficou apaixonada por esse terreno quando viu a variedade de animais que existiam no local, e com a antiga casa da fazenda, que era um grande casarão na época da cana-de-açucar.

Essa casa serviu quase como um estudo para o museu MASP, pois a casa fica sobre pilotis, com um grande vão externo e com uma estrutura aparentemente leve.

http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp408.asp

MASP considerada Obra Prima da arquiteta – 1957-1968.

No projeto do MASP Lina buscou uma arquitetura simples, ela diz que teve influncia do tempo passado no nordeste, que foi da simplificação. A pedidos do governo local ela foi obrigada a manter a paisagem do local, com isso teve que ser sobre pilotis, aproveitando também a parte de baixo do volume único, para eventos.

E com isso ela lança os conceitos do prédio, permeabilidade, simplicidade, leveza e monumental.

"Eu venho da Europa. Lá, os museus são instalados em edifícios históricos e quando são construídos novos, a tarefa é confiada a ruminadores de velhos estilos arquitetônicos, com a intenção sádica de fazer nascer morto um edifício que deve conservar coisas mortas. Assim, na minha opinião, os americanos serão verdadeiramente os primeiros a compreender a função educativa dos novos museus. O Museu de Arte de São Paulo também será um deles. Parece-me que no Brasil nos damos conta de que as idéias audazes não são utopias, enquanto, ao contrário, as utopias não são nunca audazes".


http://www.aprenda450anos.com.br/450anos/img/livro/2548B-(MASP_1969-2000).jpg

Palco para manifestações espontâneas - SESC Pompéia – 1977.

Ao visitar a fábrica de Tambores, Lina encontra uma bela construção, feita com estrutura pioneira no Brasil de concreto armado com vedação em alvenaria. Reconhece a espontaneidade e veracidade do espaço, onde famílias com crianças brincam e se divertem nos finais de semana.

“Pensei, isso tudo deve continuar assim, com toda esta alegria”

A velha fábrica deveria ser reinventada, em todo caso, os usos populares captados seriam mantidos e permeados por espelho d’ água, lanchonetes, bibliotecas, obras de arte... Para comportar todo programa previsto, Lina projeta duas torres no final do lote.

“O público sempre enxerga outra parte do público de frente, ao contrário do que ocorre tradicionalmente, em que a platéia encara o artista. Já o artista procura novas formas de expressão e comportamento no palco com duas frentes. Para qual lado deve ele estar voltado? As cadeiras desconfortáveis também provocam o público. A função perturbadora do objeto é encarada não como uma falha de desenho, mas, desde o início, como uma intenção do discurso: os estofados aparecem nos teatros áulicos das cortes, no setecentos e continuam até hoje no ‘confort’ da sociedade de consumo”,

http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc212/mc212.asp

Lina teve intensa atividade em varias áreas da cultura, inúmeros projetos em teatro, cinema e artes plásticas no Brasil e no exterior.

Merece grande destaque como designer de moveis, objetos e jóias.

Lina morreu na Casa de Vidro, realizando o sonho sempre declarado de trabalhar ate o fim.

Achillina Bo Bardi – 05.12.1914 a 20.03.1992

Cristian Lescowicz, Ricardo Pfitzer


13 comentários:

  1. Como Lina Bo Bardi mesmo disse, é possível aliar ciência e tecnologia à poesia e beleza de forma harmônica. E ela retratava bem esse conceito em suas obras. Preocupava-se em entender o povo e o entorno dos espaços para daí projetar algo que fosse conivente com o local e seus usuários.

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  2. A arquitetura de Lina Bo Bardi pode ser entendida como uma metáfora do mundo. Em suas obras ela sempre observa todo o entorno.

    Sua arquitetura é capaz de aproximar-nos ao mundo, levando em consideração todas as suas diferenças, ela absorve o vigor humano que está ao redor, buscando estabelecer com ele um diálogo produtivo. Um exemplo é o MASP.

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  3. Particularmente, gosto muito da arquiteta Lina Bo, suas obras conciliam beleza e harmonia de uma forma que sempre haja respeito com o espaço

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  4. Sem duvida o MASP é uma obra fantastica, mas acredito que a Lina Bo Bardi acerta mesmo no seu entorno, sempre com muita inteligência.

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  5. Lina Bo Bardi, em sua arquitetura, busca atender as necessidades das pessoas, respeitando e vivenciando seu modo de viver, isso permite que suas obras sejam efetivamente ocupadas por seus usuários. E o mesmo respeito pelas pessoas ela também transmite ao entorno onde suas obras são implantadas, buscando sempre uma boa relação entre o meio e o objeto edificado.

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  6. Percebo que não há arquitetura sem domínio da tecnologia.

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  7. Lina mostra através de suas obras, que o arquiteto deve estar se aprimorando a cada dia, evoluindo com a mesma velocidade que o mundo evolui. E estar apto a reconhecer e utilizar a tecnologia atual e já existente, formando um grande conjunto.

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  8. De fato a obra que marca a passagem da Lina Bo Bardi com arquiteta é o MASP, leveza e tecnologia avançada para época, como diz o professor Dr. Righ é um referência para São Paulo, para o Brasil e Para o mundo. Um retângulo com volume, suspenso por dois pilares-vigas muito bem resolvido.

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  9. Lina, apesar de formada e conceituada pela escola européia, traz uma nova identidade a sua arquitetura, onde se opõe as atividades de conservação de todas as edificações antigas e históricas da europa. Vem ao Brasil, e expõe seu traço, aliado as questões paisagisticas locais, além de levar uma arquitetura, baseada na leveza, tecnologia e evolução da forma da edificação.vExemplo disso, como no MASP, trata-se de um bloco retangular suspenso no ar.

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  10. a integração com as pessoas e a preocupação com a preservação dos ambiente e suas historias fazem as caracteristicas de Lina tornando suas construções um marco

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  11. A preocupação constante de Lina, com o bem estar das pessoas e a relação com o entorno está claramente evidenciada em suas obras e na maneira em como as pessoas se apropriam delas...

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  12. O que mais me encanta na arquitetura da Lina é a forma simples de seus edificios, simples mas de uma beleza encantadora.

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  13. Tivemos a oportunidade de visitar em salvador o Solar do Unhão – Museu de Arte Moderna da Bahia, onde observamos e vivenciamos uma das obras de Lina Bo Bardi. Essa revitalização sintetiza o trabalho da arquiteta, la observamos cada espaço e a maneira com que cada um foi tratado trazendo características modernas para uma edificação extremamente antiga, ou seja, dando um novo uso para o solar do unhão, sem, de forma alguma acobertar o passado.

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